domingo, 10 de abril de 2011

IRONIAS DA VIDA - Por Mathias Naganuma

Dom, 10 de Abril de 2011 Mathias Naganuma
cegonha 
“Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!” (William Shakespeare)

Tive uma semana péssima. Aliás, tenho enfrentado algumas semanas em um estado de espírito inquieto, algo agoniante, para não dizer agonizante. Algumas indefinições empresariais que geram indecisões e me causam sufocamento. Se isso ainda não bastasse tive 2 perdas financeiras significativas na minha empresa e ainda um desfalque na minha equipe de São Paulo. Mas, o problema é que quando os momentos de crise se instalam, ninguém nos avisa, ninguém nos prepara e sempre somos pegos de surpresa e desprevenidos.


Sendo assim, caros leitores, já peço desculpas a vocês se minha crônica dessa semana não está no mesmo tom humorístico, crítico ou filosófico e com a mesma linguagem a que me proponho todas às vezes. É que de fato meus últimos dias foram muito tensos, e, infelizmente, mesmo me esforçando, não consegui pensar em algo interessante para compartilhar com vocês nesse domingo, até porque, como já disse anteriormente, minha semana foi péssima e, por conseguinte, de interessante e de boa ela não teve nada. Contudo, como usualmente faço todas as semanas, ou seja, procuro sempre dividir com vocês um pouco do meu cotidiano, seja ele trágico, apaixonado, revoltado ou indignado, assim o farei uma vez mais.


Sabem aquele ditado que diz que quando algo está ruim a coisa pode ficar ainda pior? Pois bem. É a mais pura realidade. Não bastando todas as minhas aflições profissionais, não tive um dia da semana sequer que consegui acordar sem alguma notícia turbulenta. A principal e pior de todas elas foi acordar com a notícia de que meu tio Luiz Naganuma que mora em Brasília foi encontrado caído e desacordado em seu apartamento vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Há 20 dias atrás, aproximadamente, ficamos sabendo de que fora diagnosticado nesse mesmo tio, um câncer de esôfago maligno e que ele precisaria de um tratamento de quimioterapia e radioterapia imediatos. Passado o primeiro choque na família, tudo parecia sob controle, meu tio faria as seções de quimioterapia em Brasília e iria para São Paulo em meados desse mês para um tratamento de radioterapia que perduraria por 40 dias. Até aí, apesar da preocupação geral de todos, afinal de contas estamos falando de um câncer, as perspectivas eram boas e o caso teria que ser enfrentado com ânimo e coragem.


Dessa forma, meu tio já havia iniciado as primeiras seções de quimioterapia e estava tendo as reações esperadas de quem passa por esse tipo de tratamento. Meu pai havia conversado por telefone com o meu tio na segunda-feira de noite e me disse que ele estava com uma voz animada e parecia muito bem. No entanto, na terça-feira pela manhã, isto é, poucas horas após meu pai ter falado com meu tio, por uma coincidência ou fatalidade, chamem como quiser, ele subitamente teve um AVC e estava sozinho em casa. Quando foram busca-lo para leva-lo a mais uma seção de quimioterapia, viram que ninguém respondia dentro do apartamento, no interfone, nos telefones e tiveram que arrombar a porta. Encontraram-no desacordado e caído no chão. Pegaram em sua mão e ele reagiu apertando de volta e sussurrou à pergunta feita. Dentro daquela visão desesperadora esse era um bom sinal de que pelo menos ele estava vivo. Nesse momento ninguém sabia ainda que ele tinha tido um AVC. Apenas acharam que poderia ser alguma reação da quimioterapia e que ele tivesse caído e batido a cabeça. Mas depois de um tempo foi descoberto o AVC que nenhuma relação tinha com o câncer de esôfago. Como poderia chamar isso? Diria apenas que é uma tremenda falta de sorte. Uma das ironias da vida.


Nesse meio tempo, acredito que dentro de menos de meia hora a família inteira já estava sabendo, de norte a sul do Brasil e até no Japão. Minha tia Masuco em São Paulo já estava em pânico a caminho do aeroporto de Congonhas e meu pai aqui em Rio Branco desnorteado fazendo as malas para pegar o primeiro voo para Brasília. Como que por uma fração de segundos todos os inúmeros problemas empresariais que tive ao longo da semana desapareceram. É curioso como de um minuto para outro nosso prisma de visão para o mundo pode mudar rapidamente de posição.


São nessas situações que valorizo ainda mais minha família e aqueles amigos do peito, aqueles amigos que levamos por toda uma vida. Primeiramente gostaria de agradecer o Leo, meu amigo de infância que é um sujeito que tem um coração maravilhoso. Falando de mais uma ironia da vida, há muito poucos dias atrás parecia que eu de alguma forma ajudava o Leo em uma situação desagradável pela qual ele passava. Mas essa semana quem foi o ajudado fui eu. A gangorra da vida é algo surpreendente e fascinante. Leo, sou um cara mais feliz todos os dias por ter sua amizade. Sinta-se abraçado por essas linhas. Não poderia deixar de agradecer aqui também a eficiência impecável da Martha Prado Gerente Administrativa da MN11 SP que por três dias consecutivos organizou toda a logística de carros, passagens aéreas, check-in e embarque das minhas tias em São Paulo para que chegassem o mais rápido possível em Brasília. Martha, como já te disse por telefone, essa semana você foi 200%. Obrigado pelo seu carinho, cuidado e amizade.


Mas voltando para o meu tio Luiz, quero lhes contar agora porque resolvi escrever sobre todo esse episódio dramático para vocês. Para falar das ironias da vida, das coisas pelas quais passamos na vida e que merecem nossa reflexão. Falar da Ironia Socrática que levou ao método socrático caraterizado pela maiêutica, ou seja, levar-nos a pensar por nós mesmos, por nosso próprio raciocínio ao conhecimento, induzindo-nos pela ironia à nossa própria contradição e conclusão de que nosso conhecimento é limitado. E que a conscientização de nossas próprias cognições por nossa fragilidade e limitação acabam se tornando ironias da vida, ou seja, a disparidade entre o desejo e as duras realidades do mundo externo como por exemplo a dicotomia entre a vida e a morte.


Acabei por filosofar e “viajar” a respeito do assunto talvez porque meus neurônios já tenham virado pó há algum tempo e por ainda desacreditar na maior ironia da vida que testemunhei nos últimos tempos. Meu tio na UTI sedado vítima de um AVC e lutando contra um câncer de esôfago, e na sala ao lado, no mesmo hospital a filha dele nascendo para o mundo. De um lado toda a apreensão, tensão e tristeza de toda a família por visitar meu tio em uma UTI e simultaneamente logo ao lado a alegria de todos com a chegada de mais uma integrante da família. Enfim, em menos de 48 horas quase perdi meu tio e ganhei uma nova priminha.


Força meu tio... Coragem... Você ainda precisa conhecer sua nova filha, vê-la dar os primeiros passos, escutar ela pronunciar as primeiras palavras... vê-la crescer... prepara-la para o mundo!!!


Com todo carinho e amor, dedico a você um trecho da música de autoria de Caetano Veloso e que foi sucesso na voz de Roberto Carlos:

“.. Por isso uma força
Me leva a cantar
Por isso essa força
Estranha no ar
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha...”

Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!

Sigam-me no meu twitter pessoal: @NaganumaMathias

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