Os peruanos rondam a base e deixam os funcionários em situação de extrema vulnerabilidade em caso de conflito armado.
Altino Machado
A equipe decidiu permanecer na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira/Foto: Blog da Amazônia
Funcionários
da Funai (Fundação Nacional do Índio) permanecem cercados por um grupo
paramilitar peruano que invadiu o território brasileiro, na fronteira do
Acre com o Peru. Os peruanos estão armados com fuzis e metralhadoras.
Os
quatro funcionários e o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que
trabalha para eles, foram levados em helicóptero durante operação da
Polícia Federal nesta sexta-feira (5).
A
equipe decidiu permanecer na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio
Envira, mantida pela Funai no igarapé Xinane, na tentativa de proteger
os índios isolados da região.
Com
base nos vestígios encontrados na floresta, a equipe da Funai estima a
presença de pelo menos cinco homens em mais de um grupo paramilitar.
Os
peruanos rondam a base e deixam os funcionários em situação de extrema
vulnerabilidade em caso de conflito armado. A situação não depende mais
da ação da Funai, pois se configura uma questão de segurança nacional.
-
Estamos ainda com os peruanos próximos nos espreitando. Avistamos
rastros de seis pessoas hoje cedo, atrás da base. Estamos apenas com uma
espingarda velha e dois rifles calibre 22. Mas se tem o pessoal da PF
aqui, a gente tinha pego os invasores hoje - relatou o chefe da
Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da
Funai, Carlos Travassos.
A equipe da Funai na Frente de Proteção Etnoambiental dispões de telefone e computador conectado à internet.
-
O tempo nosso em frente ao computador está curto. Não é fácil ficar com
um olho no monitor e outro nos peruanos. Eles estão ainda aqui. São
mais de um grupo, de cinco ou seis pessoas. Estão nos monitorando e nós a
eles. A galera que está aqui é toda mansa na mata. Mas a chapa está
quente. Mande bala aí, como puder. Temos internet e telefone por aqui -
relatou o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles ao Blog da Amazônia.
A
documentarista Maria Emília Coelho, que sobrevoou a região durante
operação da Polícia Federal na sexta, disse que os funcionários da
Funai se queixam que a PF não permaneceu na base para garantir a
proteção da fronteira.
Apelo
O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles divulgou nesta tarde uma mensagem sobre a situação na área:
“A todos,
Vocês já sabem das notícias. Vão as últimas.
Desculpem
por mandar pra todo mundo, mas o tempo pra ficar no notebook aqui tá
curto. Um olho na tela e outro nos peruanos não dá.
Seguinte:
1
- Pela quantidade de vestígios aqui ao redor, temos certeza que os
caras se dividiram em grupos de 5 ou 6 e estão fazendo uma verdadeira
varredura aqui ao redor da base.
2 - Os isolados não andaram aqui não. As coisas que desapareceram daqui indicam que não foram eles.
3 - Cremos também que junto desses peruanos existam índios sim, contatados de lá.
4 - A gente conhece apito de índio remedando bicho. Parece que tem uma reunião de nambú azul aqui por perto.
5 - Se esses caras estão procurando alguma coisa, ainda não acharam.
6 - Todo mundo que está aqui ( nós cinco gatos pingados) é manso na mata, como eles.
7
- O nome de nosso dois mateiros: Francisco Alves da Silva Castro o
Marreta. Francisco de Assis Martins de Oliveira - O Chicão.
8
- O dia que a Funai descobrir que um homem como eles, valem por 20
indigenistas e 20 sertanistas, talvez resolva contratá-los, sem concurso
público, pois são analfabetos, mas os maiores doutores da mata que
conheço, talvez a segurança dos índios isolados possa ser melhor
conduzida.
Permaneceremos aqui, dê o que dê, até que o Estado Brasileiro decida RESOLVER DE VEZ esse absurdo!!!! Não pra proteção nossa.
PARA PROTEÇÃO DOS ÍNDIOS!!!!!!
Quem não tiver atualizado, por favor procure sites e tal que já tá no mundo.
Quem puder reclamar, pressionar etc., será bem vindo. Os isolado agradecem.
Um grande abraço a todos da nossa equipe de ” irresponsáveis”, como estamos sendo chamados.
Pensem bem: Quem é o irresponsável mesmo.
Meirelles”
Fonte: Blog da Amazônia